undefined
undefined
undefined
Professoras
Negras: a estranha mania de ter fé na vida
Nilma
Lina Gomes
A
mulher negra professora que vi de perto me cativou pelas múltiplas faces que
ela reflete, pelos conflitos de identidade em que tece sua condição de mulher e
profissional. Vi, de perto, como outros a enxergam e como esses diversos
olhares confundem o seu próprio olhar. Vi, também, que a pressão a que é
submetida nem sempre consegue desfigurar sua auto-imagem.Sua consciência
avança.
Essa
percepção leva à construção de um determinado tipo de prática pedagógica e de
atuação política. Nesse sentido, não podemos negar que a escola é uma das
instituições sociais que interfere ao longo do processo de construção da
identidade racial das professoras e alunas (os) negras (os) e brancas (os).O processo de construção da identidade racial do negro brasileiro é marcado por lutas, ambigüidades, resistências e emoções. A trajetória escolar das professoras negras também. As entrevistas destacam o quanto a família, o círculo de amizades e os contatos com o Movimento Negro incidem na construção da identidade racial dessas professoras.
A escola reproduz e repete um pensamento racista presente no nosso imaginário social, ela é também um espaço onde se dá a luta e a resistência da comunidade negra. A própria presença da mulher negra na educação escolar confirma essa premissa.
O desafio de construir uma auto-imagem positiva da mulher negra, em uma sociedade que a exclui e discrimina, é uma marca do processo de construção da identidade racial das professoras. Tarefa difícil, mas não impossível. Tarefa que não apaga a força e a dignidade dessas mulheres. Esse processo desafiador e conflituoso nos revela que as professoras, de um modo geral, encontram-se despreparadas para lidar com a questão racial na escola.
A opção é pelo silêncio e pelo ocultamento. No caso da professora negra, soma-se o desafio que este trabalho representa, pois remete à sua própria história de vida e às marcas deixadas pelas experiências com o racismo e a discriminação.
Os depoimentos das professoras nos mostram a difícil trajetória da mulher negra na sociedade brasileira para romper com o “lugar” a ela destinado pelo racismo. O peso do racismo é tão forte que negar a existência do preconceito e da discriminação racial torna-se uma forma de sobreviverem em meio a tantos conflitos e confrontos.
O resultado deste trabalho sobre a realidade racial no Brasil nos mostra o quanto se faz contraditório que cursos de formação de professores continuem lançando, no mercado, profissionais pertencentes a segmentos étnicos-raciais que não debatem essa questão.
Os movimentos sociais e a comunidade negra exigem da escola a adoção de práticas pedagógicas que contribuam na superação da discriminação racial e de gênero.
É necessário que os educadores compreendam que a luta pelo direito à igualdade social não apaga as diferenças co-raciais. E que o racismo não conseguiu apagar a dignidade dos sujeitos negros que, em meio a este processo ditador, continuam lutando pela sua identidade racial.É o que nos mostra a história das mulheres negras professoras que vi de perto.
Sugestão
de atividades:
- Pesquisar na grande imprensa e no
cotidiano, fatos sobre as discriminações sofridas pelas mulheres negras;
- Usar texto e debater sobre preconceito
racial e pesquisar na comunidade escolar, familiar e na sociedade qual é a
condição de trabalho da mulher negra.
Sugestão de material a ser trabalho na escola.
Fonte: Revista Mátria – Publicação da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação – CNTE (8 de março de 2003).
Coletivo Anti – Racismo
Professora Almerinda Cunha Postado 10/04/2012