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Desenvolvimento social exclui população negra                                                

Para os brancos brasileiros, padrão de vida é equivalente ao da Suíça; para os demais grupos, realidade é igual à da África

                Se o Brasil já não aparece em posição privilegiada no IDH, Índice de Desenvolvimento Humano medido anualmente pelo PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o país guarda diferenças gritantes quando este indicador é medido de forma diferenciada entre as populações negra e branca.

                Estudo realizado pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD) de 1999, mostra resultados assustadores. Enquanto o Brasil figurava em 79º lugar no ranking do IDH daquele ano, o de sua população exclusivamente branca estaria em 49º, próximo ao da Suíça. Já o cálculo do índice limitado à população negra rebaixa o país para 108º lugar, semelhante aos países mais pobres da África. “Esses números mostram que a população afro-brasileira vive em condições quase subumanas, um sinal de que alguém paga o preço da desigualdade”, analisa a assistente social Lúcia Xavier, administradora da ONG Criola, do movimento de mulheres negras.

                Quando limitamos as estatísticas de raça no Brasil ao gênero, as evidências de discriminação tornam-se ainda mais gritantes e mostram um quadro desolador para a mulher negra brasileira. Em resumo, elas ganham menos dinheiro, vivem menos tempo do que os outros grupos da sociedade e estão mais desempregadas, para citar alguns exemplos.

Números do Ministério do Trabalho mostram que o homem branco ganha quase cinco vezes mais do que a mulher negra: elas recebem, em média, 1,7 salários mínimos, seguidos dos homens negros (2,9), das mulheres brancas (3,6) e dos homens brancos (6,3).

Em termos de esperança de vida, são as estatísticas oficiais que denunciam: a mulher negra vive menos do que outros grupos da sociedade: 66 anos, em média, contra 71 anos para as mulheres brancas e 69 para os homens brancos. Só ganham dos homens negros, cuja média de vida é de 62 anos, porque também são as maiores vítimas da violência.

                Tamanha distorção nada mais é do que a “combinação de múltiplas formas de asfixia social” sobre a população negra, excluída historicamente, segundo a filósofa Sueli Carneiro, coordenadora-executiva do Geledés – Instituto da Mulher Negra e representante da Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras no recém-criado Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.


“É preciso reconhecer a desvantagem”

Única representante dos movimentos de mulheres negras no Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Sueli Carneiro acredita que, para que as políticas públicas sejam promotoras da igualdade de direitos, “é preciso reconhecer a desvantagem estrutural da mulher negra e focalizar os segmentos mais específicos”. Embora reconheça que o Conselho tenha uma “agenda muito precisa” para este primeiro ano – as reformas previdenciária, tributária e trabalhista -, Sueli acha que as políticas governamentais não poderão deixar de priorizar as mulheres negras. Um exemplo, segundo ela, é aquilo que classifica como “o ápice da exclusão”: a mulher negra, nordestina ou nortista, trabalhadora rural e chefe de família. “Essa mulher tem que ser objeto prioritário de políticas de doação de terras, por exemplo, assim como de qualquer outra política social”, diz.

Outro fator que “inquieta” Sueli é que, segundo as estatísticas, a maior parte da população negra está no mercado informal ou no desemprego. Por isso, é necessária uma atuação contundente do movimento de mulheres negras de imediato, enquanto se discute a reforma da Previdência. “É necessário que haja uma proposta suficientemente criativa da Previdência Social, que possa incluir esse segmento que está na informalidade”.

Fonte: Revista Mátria – Publicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE (8 de março de 2003).

Coletivo Anti – Racismo

Professora Almerinda Cunha

Postado 10/04/2012 - Sinteac

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